terça-feira, 8 de junho de 2010

1°. Adivinhe quem vem para jantar (parte 1)

1° Episódio - Adivinhe quem vem para jantar (parte 1)

(Uma sala grande, bem rustica. Uma porta enorme de madeira ao centro da casa. À direita de quem sai, uma mesa para 12 lugares. E um pouco mais a direita uma porta com saida pra cozinha. Ao lado mais duas portas com dois quartos. Ao centro 3 sofas um de costas pra porta e outros dois um de cada lado do outro sofá, formando como uma pá. À esquerda de quem sai uma mesa bem grande, como um balcão de hotel, mas algo antigo, à direita do balcão, tem um corredor que dá para mais 5 quartos. É nesse cenário que tudo começa. O telefone começa a tocar. Ouve-se passos apressados se aproximando, e uma mão atende o telefone. Com um sotaque carregado de alguém que vem de portugal, Sr. Pedro atende o telefone.):

Pedro - Alô! Pois não? Quartos? Sim, temos! (Silêncio) Ah, o senhor quer saber se tem algum disponivel? Deixe-me ver aqui no caderninho. (Ele imediatamente larga o telefone, faz um sinal da cruz levanta as mãos postas pro alto, como em oração e fala para si mesmo) Obrigado, meu Deus!! (Atende novamente) Olhe, o senhor tem muita sorte, temos apenas um quarto sobrando. (Silêncio) Como assim não vai querer? Ah, vocês pricisão de dois quartos? (Ele passa a mão na testa) Mas fique tranquilo, tem um casal fechando a conta agora mesmo. (Afasta o telefone da boca e grita sozinho) Tchau Elisabeth, tchau Oscar! (E imediatamente coloca o telefone no ouvido) Pronto, viu. Temos dois quartos. Alias, se precisar de três, diga, que expulso mais alguém. (Dá uma risada sem graça) Brincadeira, jamais fariamos isso com um hospede não devedor.

(Entra na sala, vindo da cozinha, Dona Socorro, a esposa de Pedro, e fala também com sotaque carregado de portuguesa)

Socorro - Com quem estas, falando, criatura? Elisabeth, Oscar? Quem diabos são esses? (Pedro afasta o telefone da orelha, cobre o bocal com a mão e diz)

Pedro - Clientes, clientes!!! (Ela faz sinal de fechar a boca com um ziper) Quando vocês chegam? Ótimo, estaremos esperando. Um abraço. (Ele desliga o telefone rapidamente e corre até a Socorro para dar uma abraço) Hóspedes, Socorro, hóspedes!!!

Socorro - Calma, gajo! Não vamos comemorar antes da hora. Da última vez vocês aquela confusão toda e aqueles possiveis inquilinos desistiram na hora! (Pedro a solta, ele diz)

Pedro - Esses brasileiros, tem costumes muito estranhos. Perguntam se tenho quarto e eu digo que sim. Sou obrigado a adivinhar que eles queriam o quarto?

Socorro - Eles acharam que você estava de sacanagem com eles e foram embora.

Pedro - (saindo de tras do balcão e indo se sentar no sofá onde Socorro esta sentada) Você sabe o que aquele gajo falou de minha mãe? (Silêncio) Não consigue entender.

Socorro - Pois entenda, criatura, entenda. Porque desse jeito vamos ter que assinar a falencia que já decretamos. (Nessa hora entra uma senhora metida a grã-fina e fala, com sotaque italiano)

Brustia - Novos hóspedes? Não creio? O que é que vocês vão trazer dessa vez? Índios para cozinhar em folhas de bananeiras? Caipiras que ficam tocando violão a noite inteira? Japoneses para melarem toda a cozinha com aquele arroz grudento deles? Paraguayos para faz.... (Ela é interrompida por Pedro que fala com impolgação)

Pedro - Isso mesmo, paraguaios. Ele disse que estão chegando do Paraguai daqui uma meia hora. E pelo sotaque espanhol deles. Com certeza não são brasileiros.

Brustia - Era só o que faltava para essa espelunca? Virar ponto de tranfico de mercadoria de quinta categoria.

Pedro (gritando) - Socorro.....!!!

Brustia (interrompendo-o) - Socorro, mesmo!!

Pedro - Eu ia falar com minha esposa, Socorro! (Brustia dá uma risada sarcastica e senta no sofa ao lado) Socorro. Essa mulher é maluca.

Brustia - Olhe como fala comigo, português bigodudo!

Pedro - Não tenho bigodes, minha querida.

Socorro - Bem, acho que já deu, né? Chega. E você Dona Brustia, esta tirando conclusões precipitadas a respeito dessa gente. Então quer dizer que todo paraguaio é contrabandista? Todo português tem bigodes e é burro? Se for assim, a Senhora é um poço de gordura, porque fica comendo massas o dia inteiro. (Brustia faz cara de despreso)

Brustia - Quando, Pepido, meu querido marido partiu me disse: "Calma querida, você vai se acostumar com o Brasil!!". Coitado do Pepino.

Socorro - Isso tudo é falta de Pepino? Tem muitos na cozinha. (Diz Socorro com cara de brava). Deixe disso, criatura. Essa terra é maravilhosa. Nos receberam maravilhosamente bem. Essa sua amargura deve ser realmente falta do pepino!!!

Brustia - Mas a senhora é muito abusada. (Silêncio) Esta bem. O Brasil não é tão mal assim. Mas tem cada tipo? Oh, gente complicada!

Pedro - E na Italia nao? Lembro bem desse seu Pepino, aqui mesmo, falando com a gente. Ele devia achar que somos surdos. Gritava demais. E você acha que é facil acostumar com essa Italianada escandalosa?

Socorro - Mas mesmo assim, adoravamos o Seu Pepino. Uma grande perda. Somos diferentes, culturas distintas. Mas somos todos iguais e imperfeitos. (Nessa hora toca a campainha)

Pedro - Ai Jesus. Deve ser o Seu Jurema outra vez. O que eu digo? Socorro!!!!

Socorro - O que foi??

Pedro - Dessa vez eu estava pedindo por socorro mesmo.

Socorro - Ah, Pedro. Mas tú é muito frouxo mesmo. Esse seu Jurema é um molenga. É como pum embaixo da agua. Faz barulho, mas não fede. (Ela vai até a porta e abre e era realmente para o Seu Jurema, um senhor alto, de terno e gravata, super elegante, com cara de bravo) Olá Seu Jurema. Temos boas noticias!!!

Jurema - Posso saber o que pode ser tão bom? Ah, vão pagar o aluguel da casa?

Socorro - Quase isso. Hoje chegam mais duas pessoas para morarem aqui.

Pedro - Quatro pessoas. Eles vem com os filhos.

Socorro - Quaaaatro pessoas, Seu Jurema. Agora a coisa vai.

Jurema - Engraçado. Ouvi essa mesma conversa há dois meses atras quando entraram aqueles japoneses aqui. E olha que era seis. Lembro bem. O chão da cozinha estava todo melado de arroz japones. Que sujeirada eles fizeram.

Pedro - O senhor é muito gentil com a gente, faz uma bela vista grossa quanto ao fato de fazermos dessa casa, um Hotel.

Brustia - Pensão... alias uma pensãozinha de quinta categoria... é que você quis dizer, ne?

Pedro - Hotel. E muito bom por sinar. Sua ingrata. (Voltando ao Jurema) Bem, eu te garanto que se dessa vez a coisa não der certo, você pode nos colocar pra fora. (Brustia faz uma cara de espanto, dá um sorrisinho e vai até o Jurema)

Brustia - Ju? Você não faria isso comigo, ne?

Socorro - Poxa Brustia, tudo isso é preocupação com a gente??

Brustia - Com a gente o que? É comigo mesma. (Voltando ao Jurema) Já te disse hoje como você é bonitão?

Jurema - Hoje?? (Pensa um pouco) Não, não, hoje não.

Brustia - O senhor é bonitão. Quando você vai me levar pra conhecer sua casa?

Socorro - Ah, sua assanhada. Mal o Pepino foi enterrado e você já quer trepar no pé de bananeira?

Jurema - Você gosta de pepino?

Brustia - Adorooo.

Jurema - Minha mãe cozinha um pepino com ricota, que é um manjar dos deuses.

Brustia - Você mora com sua mae?? Quantos anos o senhor tem?

Jurema - 53 anos. Enxuto, eu né? Obrigado. (Todos ficam com cara de sarcasmo pra cima dele e paira um silêncio). Esta bem. Vou esperar uns dias e volto aqui. Vamos vê se essa gente que vai chegar aqui, fica dessa vez, ne?

Pedro - Vão ficar!! Mas é claro que vão ficar. Serão muito bem recebidos por nós. Praticamente pelo descubridor dessa terra. Já que me chamo Pedro Cabral. E sou o representante dessa terra para quem chega aqui.

Jurema - Esta bem, está bem. Vou fingir que esta tudo bem. Mas pelo amor de Deus, vê se não me arruinem. Preciso desse dinheiro. Meus outros imoveis estão todos vazios. Você teriam que ser minha unica fonte de renda. Mas pelo visto são apenas minha fonte de rugas. Fonte de cabelos brancos. Pelo menos a idade me atinge como maquiagem. Não posso deixar de reconhecer que sou um coroa irresistivel. (Dá uma risadinha safada)

Brustia - Você é um jovem garanhão.

Jurema - Ah, se você não tivesse a idade da minha mãe!!

Brustia - O que você quer dizer!! (Diz brava) Quantos anos o senhor pensa que eu eu tenho, seu velho babão!!!

Jurema - Calma, que coisa. Deixe de ser tão nervozinha. Primeiro baba em mim, pra depois cuspir? É apenas por respeito. A senhora deve ter uns 70 anos, não?

Pedro - 70 anos além da maioridade.

Brustia - Vocês querem me irritar, não é? Mas não vão conseguir não. (Faz cara de convencida) Estou na flor dos meus 56 anos.

Socorro - Mas tú és muito mentirosa mesmo. Temos sua ficha aqui. Tens quase isso, mas com os números invertidos. 65 anos. Mas calma, vou te defender. Estas muitissimo bem. Eu te daria sim, 56 anos.

Jurema - E você acho que vou querer colocar o meu Jureminha no asilo?? Saiba que hoje cedo, eu estava caminhando na rua, indo pro escritório, quando uma linda jovem, de aproximadamente uns 25 anos ficou dando mole pra mim.

Brustia - Deu mole, porque sabe, que não adianta exigir dureza, não é?

Jurema - Acho que quem esta querendo me irritar é você né? Mas também não vai conseguir. O fim de semana esta chegando e vou pro Rio de Janeiro surfar um pouco com meus amigos da faculdade... e paquerar uns brotinhos na praia de Copacabana.

Brustia - Ok. Me desculpe... (Faz cara de coitada) Pepino nunca me levou pra conhecer o Rio, sabia?

Jurema - Pois você não sabe o que esta perdendo. O Rio de Janeiro continua lindo.

Brustia - Me leva pra conhecer o Rio, Juju??

Jurema - Mas nem que Jusus me devolva 20 anos de vida. O que meus amigos vão pensar?

Brustia - Mas como você é insolente....

Socorro - Calma, Brustia... esse é um grupo de eternos solteirões e ratos de praia dele. Eles tem um lema....

Jurema - Gatas de praia e cerveja barata sim, mas mulher na cola, nem de graça.

Brustia - Esses homens brasileiros são o fim.

Pedro - Olhe, o Pepino então devia ser brasileiro. Aquele lá não podia ver rabo de saia, que o pepino assava.

Brustia - Eu vou para o meu quarto, o ar nessa sala esta irrespiravel. (Sai e bate a porta)

Jurema - Essa mulher é louca, ne??

Pedro - É a falta do pepino. (Os dois riem)

Socorro - Jurema, você não quer aproveitar que já esta aqui e ficar para jantar. Deve estar saindo em uns 20 minutos. Tinha deixado a carne assando. Só falta fazer um arroz.

Jurema - Poxa, muito obrigado, Dona Socorro. Por isso não consigo ser cruel com vocês. (Ele poe a mão na cabeça e se lembra de algo) Ah, alias, preciso fazer uma ligação, mas meu celular esta quebrado. Posso usar o telefone de vocês?

Pedro - Claro que pode. (Jurema vai em direção ao balcão e pega o telefone, mas pedro corre até ele e grita). O que o senhor esta fazendo?

Jurema - Usando o telefone.

Pedro - E eu disse que podia usar, mas não é na hora que o senhor precisa!

Jurema - Desculpe, não sabia que você ia usar agora.

Pedro - Pois não vou, não senhor

Jurema - Então, qual é o problema?

Pedro - Custa pedir pra usar?

Socorro - Pedro, pelo amor de Deus, vou ter que te lembrar todos os dias que aqui perguntar se pode usar o telefone, é como perguntar se pode fazer uma ligação pelo seu telefone, agora? Ele não estava apenas querendo saber se pode. Ele queria mesmo...

Pedro - Esta bem, esta bem. Mes desculpe. Ligue ai...

Jurema (disca, fica mudo por um instante) - Olá meu amor. Tudo bem? Aqui é o seu Juju. Saudades do seu gatão? To com saudades de você também. Adorei te conhecer hoje a tarde. Esta afim de fazer algo hoje, mais tarde? (Silêncio e faz cara de que esta em encrencas e então se dirige ao Pedro) Tem lugar para mais um na mesa, pra hoje a noite?

Pedro - Sim, tem sim senhor... (mas Socorro o corta)

Socorro - Tem e pode trazer... ele quer saber se pode trazer a namoradinha dele pra jantar essa noite.

Pedro - Esta pensando que sou burro? Entendi muito bem. (para o Jurema) Traga sua amiguinha para o nosso jantar.

Jurema - Claro meu amor. Tem um restaurante muito bom aqui no centro. Fica num Hotel muito bom. Você vai adorar. O atendimento é de primeira. (Socorro faz uma cara de quem esta super feliz). Te busco em meia hora na porta do metro Republica. Beijos na boca. Tchau. (Ele faz dá um sorriso bem falso e vai andando até a Socorro com cara de filho pidão). Você sabe que adoro vocês, né? Bem, estou disposto a perdoar o atraso desse mês, mas vocês terão que fazer algo pra mim.

Pedro - Meu filho, em troca dessa divida, servimos até o melhor bacalhau da casa!!!

Jurema - Bem, ela esta esperando um restaurante de qualidade. E sei que a senhora tem uma mãozinha de ouro na cozinha. Então, vou precisar que vocês me ajudem a fazer com que ela acredite que essa pensãozinha é um Hotel de verdade!!! Sabe como é, não vejo a cor do dinheiro há meses.

Pedro - Mas que desgraçado!!! Aqui é um hotel e dos bons!!!

Jurema - Não tenho dúvidas. Mas bem que vocês podiam encenar para mim...

Socorro - Não estou te entendendo?

Pedro - E não somos atores. Você não a convidou para jantar? Ou por acaso era para o teatro?

Jurema - Jantar. Mas preciso que vocês banquem os garçons, criem uma noite tematica portuguesa. Para parecer um verdadeiro restaurante português. O que justificará comermos bacalhau.

Pedro (após um silêncio) - Vais perdoar nossa dívida?

Jurema - Qual dívida?? (diz com um sorriso na cara)

Pedro - A dívida do mês!!! Estás com amnésia?

Socorro - Pedro, pelo amor de Deus. Foi apenas uma forma de demonstrar que ele já perdoou a dívida. Que já esqueceu a dívida. (dirigindo-se ao Jurema) Pode deixar. Terás o melhor jantar português da sua vida. E ela vai acreditar que aqui é um restaurante!! Acredite em nós.

Jurema - Amo vocês!!

Pedro - Mas você é muito esquisito. Acho que formaria um par perfeito com a Brustia.

Jurema - Credo e cruz. Espere só até ver que pitéuzinho, é essa moça que vou trazer.

Pedro - Mas que nome mais feio essa moça tem.

Socorro - Ai, meu Jesus!!! Você que é o esquisito, criatura!!! Bem, vou cuidar do jantar. Nos vemos mais tarde.

Jurema - Até mais tarde! (Socorro se retira) Bem, Seu Pedro, vou passar rapidinho em casa e volto mais tarde com a Bia. Até mais tarde. (E se retira rápidamente)

Pedro - Mas é Pitéuzinha ou Bia? Eu realmente não entendo essa gente!!!

Fim da primeira parte.

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